O transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênico é utilizado como terapia curativa para um grande número de doenças hematológicas, tanto de natureza maligna quanto benigna. O sistema imunológico do doador reconhece células tumorais residuais como “estranhas” do ponto de vista imune e é capaz de erradicá-las do organismo, configurando o que se descreve como efeito “enxerto versus tumor”, que é benéfico para controle das neoplasias hematológicas que necessitam de transplante para sua cura. Dessa forma, o TCTH é considerado uma forma eficaz de Imunoterapia. No entanto, esse efeito imunológico dos transplantes alogênicos podem levar a complicações ao receptor.
A Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (DECH), é um conjunto de manifestações clínicas que podem surgir após todos os tipos de TCTH. Isso se deve as células do doador (o enxerto) que começam a reagir contra as células do receptor (hospedeiro), gerando um processo inflamatório, mesmo o doador sendo compatível. Essa “briga” imunológica leva a várias complicações clínicas secundária a esse processo inflamatório. Quando essas complicações ocorrem em até 100 dias após o TCTH, é classificada como aguda e, após 100 dias, como crônica.
A disparidade entre os HLA (exame de compatibilização entre doador e receptor) é o fator de maior predisposição dos pacientes a desenvolverem a DECH. No transplante alogênico aparentado, a incidência é menor. Já no transplante não-aparentado e no haploidêntico (aparentado com 50% de compatibilidade), a incidência é maior e geralmente mais grave. Entretanto, outros fatores relevantes têm sido identificados como de predisposição para o desenvolvimento da doença, por exemplo: idade do paciente, idade do doador, fonte e dose das células-tronco escolhida, a intensidade do regime de condicionamento (quimioterapia pré- transplante) e medicações utilizadas para prevenção de DECH. Mas mesmo com todos os cuidados é esperado que 40 a 50% dos TCTH manifestem com algum sinal de DECH.
Conheça as principais manifestações clinicas.
DECH aguda:
Reações na pele (vermelhidão, em especial nas áreas da nuca, bochechas, orelhas, ombros, palmas das mãos e plantas dos pés);
Náusea e/ou vômitos frequentes;
Dor abdominal;
Diarreia;
Níveis elevados da bilirrubina.
DECH crônica:
Alterações no pulmão (sensação parecida com a de uma bronquite, peito pesado e tosse);
Pele (lesões, prurido, esclerose);
Unhas (ficam opacas e/ou escuras);
Ressecamento da boca, olhos e região genital;
Acometido do gastrointestinal (cólicas fortes, náuseas e vômitos, diarreia).
Para controlar e curar essas reações, são utilizados imunossupressores com o intuito de impedir que os linfócitos continuem atacando o paciente. Já nas formas mais graves, são utilizadas novas drogas, como ruxolitinibe, fotoaférese extracorpórea e todo um suporte multidisciplinar. Importante o paciente pós-transplante ser acompanhado por uma equipe experiente e estar atenta a todas as manifestações clínicas.
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